terça-feira, 12 de abril de 2011

A rosa



A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa.
- Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma.
Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos,
os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
(..)
Pude bem cedo conhecer melhor aquela flor. Sempre houvera, no planeta do pequeno príncipe, flores muito simples, ornadas de uma só fileira de pétalas, e que não ocupavam lugar nem incomodavam ninguém. Apareciam certa manhã na relva, e já à tarde se extinguiam. Mas aquela brotara um dia de um grão trazido não se sabe de onde, e o príncipezinho vigiara de perto o pequeno broto, tão diferente dos outros. Podia ser uma nova espécie de baobá. Mas o arbusto logo parou de crescer, e começou então a preparar uma flor. O príncipezinho, que assistia à instalação de um enorme botão, bem sentiu que saíra dali ima aparição miraculosa; mas a flor não acabava mais de preparar-se, de preparar sua beleza, no seu verde quarto. Escolhia as cores com cuidado. Vestia-se lentamente, ajustava uma a uma suas pétalas. Não queria sair como os cravos, amarrotada. No radioso esplendor da sua beleza é que ela queria aparecer. Ah! Sim. Era vaidosa. Sua misteriosa toalete, portanto, duraram dias e dias. E eis que uma bela manhã, justamente à hora do sol nascer, havia-se, afinal, mostrado.
E ela, que se prepara com tanto esmero, disse, bocejando :
- Ah! Eu acabo de despertar... Desculpa... Estou ainda toda despenteada...
O príncipezinho, então, não pôde conter o seu espanto :
- Como és bonita !
- Não é ? Respondeu a flor docemente. Nasci ao mesmo tempo em que o sol...
O principezinho percebeu logo que a flor não era modesta. Mas era comovente !
- Creio que é a hora do almoço, acrescentou ela. Tu poderias cuidar de mim...
E o príncipezinho, embaraçado, fora buscar um regador com água fresca, e servira à flor.
Assim ela o afligira logo com sua mórbida vaidade. Um dia, por exemplo, falando dos seus quatro espinhos, dissera ao pequeno príncipe :
- É que eles podem vir os tigres, com suas garras !
- Não há tigres no meu planeta, objetara o príncipezinho. E depois, os tigres não comem erva.
- Não sou uma erva, responde a flor suavemente.

- Perdoa-me...
- Não tenho receio dos tigres, mas tenho horror das correntes de ar. Não terias acaso um para-vento ?
« Horror das correntes de ar... Não é muito bom para uma planta, notara o príncipezinho. É bem complicada essa flor... ».
- À noite me colocarás sob a redoma. Faz muito frio no teu planeta. Está mal instalado. De onde eu venho...
Mas interrompeu-se de súbito. Viera em forma de semente. Não pudera conhecer nada dos outros mundos. Humilhada por se ter deixado apanhar numa mentira tão tola, tossiu duas ou três vezes, para pôr a culpa no príncipe :
- E o para-vento ?
- Ia buscá-lo. Mas tu me falavas...

Então ela redobrava a tosse para infligir-lhe remorso.
Assim o príncipezinho, apesar da boa vontade do seu amor, logo duvidara dela. Tomara a sério palavras sem importância, e se tornara infeliz.
« Não a devia ter escutado - Confessou-me um dia - não se deve nunca escutar as flores. Basta olha-las, aspirar o perfume. A minha embalsamava o planeta, mas eu não me agastara me devia ter enternecido... ».

Confessou-me ainda :
« Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava e me iluminava... Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar ».

O Pequeno Príncipe


Cidinha/Marieci

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