segunda-feira, 24 de março de 2014

Carlos Drummond de Andrade - Não se mate

Não se mateCarlos, sossegue, o amoré isso que você está vendo:hoje beija, amanhã não beija,depois de amanhã é domingoe segunda-feira ninguém sabeo que será.
Inútil você resistirou mesmo suicidar-se.Não se mate, oh não se mate,Reserve-se todo paraas bodas que ninguém sabequando virão,se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,a noite passou em você,e os recalques se sublimando,lá dentro um barulho inefável,rezas,vitrolas,santos que se persignam,anúncios do melhor sabão,barulho que ninguém sabede quê, praquê.
Entretanto você caminhamelancólico e vertical.Você é a palmeira, você é o gritoque ninguém ouviu no teatroe as luzes todas se apagam.O amor no escuro, não, no claro,é sempre triste, meu filho, Carlos,mas não diga nada a ninguém,ninguém sabe nem saberá.Não se mate


Até mais, não se mate e seja feliz!







Marieci

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Boraaaaa!!!! rs