sexta-feira, 5 de julho de 2013

História de uma médica sobre o desespero cotidiano em um hospital brasileiro




Na passeata de ontem dos médicos na paulista, não encontrei a doutora Juliana Mynssen, ela é médica no Rio, entrei em contato com suas ideias através do território livre da internet.
Conta ela:
Na frente, da sala da sutura tinha um paciente idoso internado, numa cadeira com soro pendurado na parede, num prego similar aos que prendemos samambaias, ao seu lado seu filho, com fala pausada, calmo e educado, como eu, como você, como nós.
Perguntava pela possibilidade de internação de seu pai numa maca, que já estava na cadeira a mais de um dia,  ia desmaiar.
Esperou, esperou, e toda vez que abria portinha da sutura ele estava lá esperando, como eu, como você, como nós.
Em um momento que ele desmoronou, se ajoelhou no chão começou a chorar.
 - Não é pra mim, é pro meu pai,  uma maca pelo amor de Deus!
Como eu faria, como você,  como nós.
E sai, chorei, voltei, briguei e o coloquei em uma maca, retirada da ala feminina.
Já levei meu pai para fazer exames no meu Hospital Universitário.
O endoscopista, quando soube que era meu pai disse:
- Ah porque você não me falou,  levaria no setor privado, Juliana.
- Não precisamos, acredito nas pessoas que trabalham comigo, que me ensinaram e ainda ensinam. Eu confio.
Meu irmão precisou e eu o levei lá.
Todos os nossos médicos são de hospitais públicos que conhecemos, e se não usamos mais, é porque as instituições públicas carecem, carecem e padecem de leitos, aparelhos, materiais e medicamentos.
Uma vez fiz um risco cirúrgico e colhi sangue no meu Hospital Universitário.
No consultório de um professor ele perguntou:
- Você confia?
- Se confio para os meus pacientes, tenho que confiar para mim.
Eu pratico a medicina. Ela pisa em mim alguns dias, me machuca, tira o sono, dá rugas, lagrimas. Eu ainda acredito na medicina.
Nesses últimos dias de protestos nas ruas e nas mídias, brigamos por um pais melhor, menos corrupto, transparente e menos populista, com mais qualidade, com mais macas, hospitais melhores, mais equipamentos e que não faltem medicamentos, um SUS melhor.
Eu não tenho palavras para descrever o que penso de Brasília.
Mas hoje por mim, por você e pelo meu paciente na cadeira eu ouvi o governo dizer que escutou o povo democrático brasileiro, escutou que queremos educação, saúde e segurança de qualidade.
E disse que importará médicos para melhorar a saúde do Brasil.
Para melhorar a qualidade?
Eu sou uma médica de qualidade!
Meus pais são médicos de qualidade!
Meus professores são médicos de qualidade!
Meus amigos de faculdade, meus colegas de plantão são médicos de qualidade!
O médico brasileiro é de qualidade.
Os seus hospitais é que não são!
O seu SUS é que não tem qualidade!
Não pisem no meu diploma, não me culpe da ineficiência de vocês, somos quase 400 mil, não nos ofenda.
Olha,  estou amanhã de plantão Brasília. 
Abra uma ficha eu te atendo, não demora não, não faltam médicos.
Mas não garanto que tenha onde sentar, afinal a cadeira é prioridade dos internados.
Hoje eu chorei de novo.

por Salomão Schvartzman
Band News





Boa noite Brasil!



Marieci

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Boraaaaa!!!! rs